Segue, abaixo, um resumo muito legal, para quem cursa Pedagogia, está no
terceiro período e faz a Disciplina de Língua Portuguesa na Educação 1.
Encontrei no blog da Geisa S.,
que está no quarto período de Pedagogia, em Macaé (https://sites.google.com/site/adseapsde/resumo-aulas-de-lp1).
Vale a pena ler e deixar seu comentário. Espero que ajude a todos!
RESUMO para a AP2 de
Língua Portuguesa na Educação 1
Para Geraldi o ensino tradicional da língua
portuguesa investiu, erroneamente, no conhecimento da descrição da língua,
suponho que a partir deste conhecimento cada um de nós melhoraria seu
desempenho no uso da língua. Na verdade, a escola agiu mais ou menos como se
fosse necessária saber como a força da água se transforma em energia em
claridade na lâmpada que acendemos.... (1995, p.71).
Assim,
para que o alunos sejam usuários proficientes da língua é necessário que escola oportunize o contato com usos diversos
das manifestações dessa linguagem, de forma que esse sujeito adquira a
possibilidade de gerar sentidos para aquilo que ele é capaz de ler e ouvir, bem
como de produzir, seja na expressão oral, seja na escrita. Logo, as
nomenclaturas e conceitos dos elementos que a gramática tradicional considera
são informações que não estão diretamente relacionadas com a proficiência no
uso da língua materna. Desta forma, o aluno para ser proficiente não precisa necessariamente saber todos os
conceitos gramaticais e nomenclaturas. Pois
a língua materna é a adequação da língua
oral e escrita ao contexto do aluno. A
gramática não garante a proficiência do uso da língua, o conceito não garante o
falar bem.
O
contato com a norma-padrão é necessário, pois, do contrário, corremos o risco
de excluir aqueles que já são excluídos por fatores como a classe social e o
poder aquisitivo. Se o uso da norma-padrão garante ascendência de uns sobre
outros, vamos, sim, “informar” nossos
alunos a seu respeito, mas com a lúcida consciência de que o trabalho
com a língua não é, de forma nenhuma, apenas isso. Tampouco o domínio da
norma-padrão precisa passar, nesse primeiro segmento de escolaridade, pela
memorização de uma série de nomenclaturas, quando sabemos que o trabalho com
textos variados, a leitura de diferentes gêneros literários, o contato e a
interlocução com falantes que dominem tal variedade, serão práticas bem mais
eficientes neste sentido.
A
escola continua a trabalhar com a língua portuguesa “cobrando” de nossos alunos
das séries iniciais a memorização de nomes e conceitos. Na verdade, essa
abordagem nada teria de tão cruel se fosse feita com o objetivo de se construir
uma mentalidade crítica em relação ao ensino desta “norma-padrão”. Sabemos que
o conhecimento dessa norma pode ser um fator favorável ao exercício de um poder
do qual já falamos aqui. Também sabemos que a cidadania e a inserção do
indivíduo na sociedade estão intimamente relacionadas a um tipo de aceitação
que inclui uma série de “saberes”, inclusive o da língua.
Para
Marcos Bagno (2001), (...) a
norma-padrão é uma tentativa de conservação de formas linguísticas
ultrapassadas, que não são nem melhores, nem mais bonitas, nem mais lógicas que
as formas presentes nas variedades reais, mas apenas consagradas pelo uso de
segmentos privilegiados da sociedade (p. 60).
Para
ele, é a desigualdade de condições que podemos instaurar ao privar nossos
alunos de tomar conhecimento dessa bendita norma-padrão. Como ele, achamos que
o contato com ela serve para que “os alunos oriundos das camadas sociais
desfavorecidas (...) possam ter como lutar com as mesmas armas dos alunos
provindos das camadas privilegiadas” (2001, p. 60).
É
claro, como já sinalizamos, que essa luta não pressupõe apenas a decoreba de
nomes e conceitos, mas a possibilidade de pensar criticamente sobre essa
abordagem, de modo a favorecer o uso da língua em suas mais diversas
manifestações. Entretanto, continuamos a “ensinar” aos nossos meninos de
primeira série o que é um substantivo e como se conjugam os verbos no Presente,
Passado e Futuro de forma mecânica, dissociada de contextos, principalmente do
contexto do aluno. Afinal, os livros didáticos, em sua maioria, trabalham dessa
forma, e a escola adota o livro, e nós temos de acatar a escolha da escola, e é
tão complicado dizer que não está bom.
Para
Magda Soares, um ensino da língua materna comprometido com a luta contra as
desigualdades sociais e econômicas reconhece, no quadro dessas relações entre a
escola e a sociedade, o direito que têm as camadas populares de apropriar-se do
dialeto de prestígio, e fixa-se como objetivo levar os alunos pertencentes a
essas camadas a dominá-lo, não para que se adaptem às exigências de uma
sociedade que divide e discrimina, mas para que adquiram um instrumento
fundamental para a participação política e a luta contra as desigualdades
sociais. Um ensino de língua materna que pretenda caminhar na direção desse
objetivo tem de partir da compreensão das condições sociais e econômicas que
explicam o prestígio atribuído a uma variedade lingüística em detrimento de
outras, tem de levar o aluno a perceber o lugar que ocupa o seu dialeto na
estrutura de relações sociais, econômicas e linguísticas, e a compreender as
razões por que esse dialeto é socialmente estigmatizado; tem de apresentar as
razões para levar o aluno a aprender um dialeto que não é o do seu grupo social
e propor-lhe um bidialetismo não para sua adaptação, mas para a transformação
de suas condições de marginalidade (1993, p. 78).
Para Magda Soares, não se trata de banir a
norma-padrão de nossa prática docente, mas de remodelá-la, de forma que ela
tenha, de fato, uma função na vida dos nossos alunos.
Desta
forma não é difícil deduzir qual a função que o conhecimento das normas que a
gramática tradicional criou para a língua pode desempenhar na vida de um
cidadão, principalmente se for um cidadão com fortes indicações para todo tipo
de exclusão. Esse conhecimento não deve ser encarado como a forma correta de se
aprender a língua, mesmo porque, como já dissemos, a língua não se aprende, se apreende
no uso, e esses conhecimentos não atuam diretamente na melhoria desse uso.
Portanto, não é nem um pouco absurdo considerar que conhecer a fundo a
norma-padrão é parte do caminho que leva ao questionamento da exclusão através
do uso da língua, pois só conhecendo se pode questionar, e o questionamento é a
maneira pela qual o privilégio de uma determinada forma de expressão pode ser
colocado em xeque.
O
uso proficiente da língua e a geração de sentidos que ele possibilita não
precisam – e, em alguns casos, nem devem – se pautar na nomenclatura e nos
conceitos que a gramática preceitua. Assim, podemos trabalhar com as possibilidades
de geração de sentidos que a organização dos enunciados permite. Para o aluno,
é importante perceber que a mudança de uma palavra dependente acarreta
alteração de sentido – e, consequentemente, nova produção – do que se diz ou se
escreve.
A
conceituação das classes de palavras torna-se bastante frágil diante dos fatos
dinâmicos da língua. Por isso, mais
relevante que esses conceitos é a funcionalidade de cada classe de palavras.
Quando falamos em funcionalidade, estamos falando na aquisição dos mecanismos
de instrumentalização dessas palavras, de modo que seu uso, tanto oral
quanto escrito, se torne proficiente. De
nada serve a nossos alunos reconhecer o nome de cada palavra, se ele não
percebe de que maneira ela funciona na língua, ou seja, se não conseguimos
refletir sobre o uso que delas fazemos. Nesse sentido, o exercício da
leitura e da escrita – necessariamente nesta ordem – torna-se pilar de
sustentação dessa metodologia. Imaginemos uma aula em que nosso objetivo seja
apresentar ao aluno a organização das palavras na língua.
O
dinamismo da língua não está somente em empregos não previstos pela norma
padrão, mas também na criação de significados implícitos naquilo que cada um
cria, pois cada vivência é única e preciosa para que possamos aprender uns com
os outros, cada vez mais. Os alunos
precisam, mais do que aprender regras, ser estimulados a criar. Como o menino
maluquinho, que “quanto mais deixavam ele criar, mais o menino inventava...”.
Por isso, a constatação de que as palavras
não pertencem, rigorosamente, a uma determinada classe gramatical nos ajuda a
compreender melhor por que não é útil para o aluno memorizar nomes e conceitos. Se quando estamos compondo textos completos – orais ou
escritos – podemos criar novas formas de utilização das palavras, e se a classe
das palavras varia de acordo com essas formas de utilização, então é preciso
que se saiba utilizá-las de várias maneiras, e, principalmente, entendê-las em
seus múltiplos empregos. Essa funcionalidade faz parte das estratégias de aquisição
das estruturas linguísticas que buscamos utilizar com nossos alunos, sem que
precisemos bombardeá-los com nomenclaturas que não colaborarão para que eles
usem melhor a língua.
O
que queremos deixar claro é que o desvio pode não ser, simplesmente, a
assimilação de uma forma da oralidade que se vai legitimando pelo uso, mas
constituir uma opção de uso na fala ou na escrita visando a um objetivo
específico, a uma forma de expressar diferente. Portanto, um uso que se desvie da norma padrão
representa um fato linguístico altamente relevante, pois traduz a necessidade
que o falante tem de gerar novos sentidos para novos enunciados. Essa
necessidade não é, nem tem de ser exclusividade de escritores e poetas. Nossos alunos, como usuários da língua, podem
querer jogar com as palavras e seus sentidos, e cabe a nós instrumentalizá-los
para que se vejam aptos a lidar com a língua de maneira menos normativa e mais
gerativa.
As pistas para esse caminho estão lançadas:
leitura, antes de qualquer coisa; escrita, sempre. Pois, percepção da
organização das palavras e das relações de dependência entre elas deve ser
resultado do contato com a língua, via textos. As frases soltas, descontextualizadas, em que as palavras
aparecem sempre aprisionadas nas mesmas classes e sem nenhum desvio – até
porque, fora de contexto, o desvio perde o sentido – não contribui para que o
aluno se torne proficiente no exercício de usar as palavras a seu favor. Ao
dizer isso, não queremos, de maneira alguma, que o uso da língua seja instrumento
de poder, mas de um poder especial, que é o de poder compreender e o de ser
compreendido – dominar a língua, em vez de sentir-se dominado por ela.
"Escrever
uma redação" não é o mesmo que "produzir um texto", pois essas
duas ações correspondem a momentos político-pedagógicos diferentes. A esse
respeito, veja o que diz Geraldi:
O
primeiro deslocamento a fazer, de um lado, é o da função-aluno que escreve uma
redação para uma função-professor que a avalia e, de outro lado, o próprio ato
de produção escolar de textos (...). Na redação, não há um sujeito que diz, mas
um aluno que devolve ao professor a palavra que lhe foi dita pela escola (...).
O caráter artificial desta situação dominará todo o processo de produção da
redação, sendo fator determinante de todo o seu resultado final. Para mantermos
uma coerência entre uma concepção de linguagem como interação e uma concepção
de educação, esta nos conduz a uma mudança de atitude – enquanto professores –
ante o aluno (GERALDI, p. 127-128).
Como
você pode perceber, Geraldi, de certa forma, apresenta a distinção entre
"redação" e "produção de texto". No primeiro caso, o texto
é escolar; é escrito para ser avaliado e é concebido dentro de determinadas
regras ditadas pela escola. Nesta situação estão, inclusive, os textos
acartilhados. Já no caso da produção
de texto, a escrita se faz com
a interlocução entre um autor e um leitor; entre parceiros da linguagem escrita,
que dialogam sobre o escrito, que constroem sentidos por meio da linguagem. São
textos mais críticos, mais criativos, embora, por vezes, fujam da norma padrão,
exatamente por isso – por não se prenderem a muitas regras, como você viu nas
aulas anteriores. Ou seja, quando as crianças fazem redações – prática
caricaturesca que só acontece na escola –, sabem que estão escrevendo,
fundamentalmente, para serem corrigidas pelos seus professores, formalmente
avaliadas, e não para serem lidas em suas idéias e valorizadas em sua criação. Pensar na perspectiva da produção de texto
implica, necessariamente, devolver à escrita o seu lugar de objeto social,
posto que para grande parte das crianças a escrita ainda tem se revelado como
objeto escolarizado, didatizado.
Os
autores referenciados, todos estudiosos da linguagem e do ensino da língua
materna, apresentam-nos outras formas de trabalhar com a língua materna na
escola, ou seja, eles propõem alguns princípios básicos para que a sala de
aula, no trabalho com a língua, se transforme em um ambiente mais significativo
e prazeroso, tanto para os alunos quanto para nós, professores (ou futuros
professores). Fundamentalmente, eles nos afirmam que: Não se trata de “ensinar” a língua materna, que o aluno já fala ao
entrar na escola; nem se pode, aliás, ensinar uma língua. O que cabe é ir
aumentando a capacidade comunicativa dos alunos, trabalhar com a língua,
melhorando sempre mais e tornando mais produtivo o manejo desse instrumento
(LUFT, 1985, p. 33-34).
No
processo pedagógico, (...) trata-se de construir possibilidades de novas
interações dos alunos (entre si, com o professor, com a herança cultural ), e é
nestes processos interlocutivos que o aluno vai internalizando novos recursos
expressivos, e por isso mesmo novas categorias de compreensão do mundo
(GERALDI, 1996, p. 69).
Em
resumo, poderíamos enunciar uma espécie de lei, que seria: não se aprende por exercícios, mas por práticas significativas.
(...) O domínio de uma língua, repito, é o resultado de práticas efetivas,
significativas, contextualizadas. (...) O modo de conseguir na escola a
eficácia obtida nas casas e nas ruas é “imitar” da forma mais próxima possível
as atividades linguísticas da vida. Na vida, na rua, nas casas, o que se faz é
falar e ouvir. Na escola, as práticas mais relevantes serão, portanto, escrever
e ler. Claro que se falará às pampas na escola, e, portanto, se ouvirá na mesma
proporção (um pouco menos, um pouco mais...) (POSSENTI, 1996, p. 47-48).
As
citações destacam pontos com os quais nem sempre nos preocupamos, quando
entramos em sala de aula para ensinar a língua materna. A possibilidade
de incentivarmos mais as práticas discursivas – orais ou escritas –; de
criarmos situações significativas para os alunos se expressarem, lendo,
escrevendo ou oralmente não correspondem a práticas comuns e em nosso
cotidiano.
Propostas
mais atuais do ensino de língua têm posto em questão, com diferentes ênfases, a
necessidade de se ensinar gramática, e insistido na idéia de que não se pode
confundir o estudo da linguagem com a gramática (BRITTO, 1997, p. 30-31).
Talvez
deva repetir que adoto sem qualquer dúvida o princípio (quase evidente) de que o
objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais
exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido. Qualquer outra
hipótese é um equívoco político e pedagógico (POSSENTI, 1996, p. 17).
Quando
falamos em um trabalho mais significativo, crítico e criativo com a língua materna, não
estamos desvinculando as questões gramaticais desse trabalho. Como afirma
Possenti, há um princípio evidente nesta nossa discussão – o de que o
objetivo da escola é ensinar o português padrão. E para isso, ele precisa estar presente na sala de aula; contudo, essa
presença pode ser contextualizada, revista, não pode?
Para
Bagno (2001), norma culta "é o conjunto de usos linguísticos dos
falantes cultos de um país, de uma região ou de uma cidade" (p. 39),
entendendo-se por falante culto aquele que possui curso superior
completo e que foi nascido e criado em zona urbana. Somente essas duas
definições já nos dão a dimensão do problema (ou o tamanho da pedra, se
preferirmos...): Se opto pela postura do gramático tradicional, entendo norma
culta dentro de parâmetros estritos e restritos à formalidade da
língua clássica escrita. Se, ao contrário, adoto a postura do linguista, vou
compreender o mesmo termo a partir dos usos que um falante culto faz da
sua língua materna. Ao optar pela segunda postura, alguns nos dirão: mas quem me garante que o uso oral ou escrito de um falante
culto estará correto?
Na
realidade, falar em correção e incorreção do uso da língua esbarra na visão de
muitos linguistas que demonstram haver certa equivalência entre todas essas
formas. O que muda a partir da opção por uma delas é a imagem do falante, isto
é, aquele que utiliza a língua deve buscar, antes de correção, adequação à
situação em que a enunciação acontece. Num ambiente informal, "deixar
escapar uma 'meia gordinha'", como menciona o narrador do texto, é
absolutamente irrelevante. O mesmo não ocorre quando se está redigindo um
documento, por exemplo. Assim, o erro relativiza-se, tornando-se, antes de
tudo, uma questão sociocultural, não apenas linguística.
Muitos estudiosos da Linguística afirmam que
não existe erro quando se trata do uso da língua. Para eles, existe adequação a uma determinada situação
comunicativa, já que o certo e o errado estão ligados a um uso da língua
padronizado socialmente. Nesse caso, estaríamos falando do que é aceitável ou
não, de acordo com o nível de adequação à norma padrão exigida por determinada
situação. O fato de um falante dizer, por
exemplo, "nós fomo" em lugar de "nós fomos", não impede que
se faça entender, mas, obviamente, o compromete diante daqueles que o escutam.
O entendimento não é afetado, mas o falante fica socialmente marcado de forma
negativa. Como se vê, esse tipo de erro, que é compatível com a idéia de
inadequação, não impede a comunicação. Por isso, ele tem um caráter
extralinguístico, que extrapola o nível da produção da fala e transborda para
um nível de aceitabilidade social.
O
Falar e escrever são atos linguísticos específicos e diferentes,
ou seja, ao utilizar um desses atos lingüísticos, é necessário conhecer suas
especificidades sem, no entanto, prender-se a regras gramaticais, puramente
formais. Isto significa dizer que não existe uma única norma, correta e
infalível. A norma constrói-se no uso, na
interlocução, nos diversos contextos de utilização da fala ou da escrita. Assim
sendo, e pensando no espaço da escola, ensinar
uma língua significa trabalhá-la incessantemente, na oralidade e na escrita, em
diversas situações de uso. Também discutimos que o que denominamos erro pode
ser entendido com um desvio na língua considerada padrão e que, por
isso, em sala de aula, devemos trabalhar com as várias normas existentes
– incluindo a norma padrão!
A
coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido
para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os
usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de
interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de
comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste
texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global
(2004, p. 21). A coerência não é apenas um traço ou uma propriedade do texto em
si, mas (...) se constrói na interação entre o texto e seus usuários, numa
situação comunicativa concreta (2004, p. 81).
A
leitura atenta da citação anterior nos permite inferir que coerência é o
estabelecimento de sentido(s) em um texto. Mas também que essa atribuição de sentidos
depende da interação entre os usuários, concorda? Então, esse estabelecimento
depende de alguns fatores que presentes, juntos ou não, de certo modo facilitam
a compreensão dos usuários. Segundo Koch e Travaglia (2004), esses fatores são
de ordem linguística, discursiva, cognitiva, cultural e interacional.
No
livro A coerência textual, Koch e Travaglia nos apresentam onze fatores
que possibilitam o estabelecimento da coerência. Nesta nossa aula, vamos
destacar cinco deles, a saber: (a) os elementos lingüísticos; (b) o
conhecimento de mundo; (c) o conhecimento partilhado; (d) as inferências (e) a
contextualização. Sintetizando, o conhecimento de mundo nos possibilita
entender algumas mensagens, e outras não; ou seja, se temos familiaridade com o
tema, fatos ou situações expostas em um determinado texto oral ou escrito, não
temos dificuldades para entendê-lo. Dentro dessa lógica, podemos partir para um
terceiro elemento, que se denomina conhecimento partilhado. Como o
próprio termo deixa entrever, um texto será inteligível, tanto para seu autor
como para o receptor, se ambos partilharem daqueles fatos, temas ou
situações aos quais o texto se refere. Em outras palavras, quando o
conhecimento é partilhado, a comunicação entre as pessoas estabelece-se muito
mais rapidamente. Inferência é a operação pela qual, utilizando seu
conhecimento de mundo, o receptor (leitor/ouvinte) de um texto estabelece uma
relação não explícita entre dois elementos desse texto que ele busca
compreender e interpretar (...) Compete, portanto, ao receptor ser capaz de
atingir os diversos níveis de implícito, se quiser alcançar uma compreensão
mais profunda do texto que ouve ou lê (p. 65). Analisando o trecho, podemos
dizer que a inteligibilidade de um texto depende das inferências que seu
receptor consegue realizar. Um enunciado simples como, por exemplo, (10) Maria
comprou algumas obras de Machado de Assis, me permite inferir que (a) Maria
é uma estudante; (b) Maria é uma pessoa que gosta de literatura; (c) Maria é
admiradora de Machado de Assis ou, ainda, que (d) Maria precisava adquirir
várias obras de Machado e que, naquele momento, conseguira adquirir algumas
delas. A inferência estabelece-se também quando o grau de familiaridade entre
autor e receptor é maior. Os fatores de contextualização são aqueles que
"ancoram" o texto em uma situação comunicativa determinada. (...)
podem ser de dois tipos: os contextualizadores propriamente ditos e os
perspectivos ou prospectivos. Entre os primeiros estão a data, o local, a assinatura,
elementos gráficos, timbre, etc, que ajudam a situar o texto e, portanto, a
estabelecer-lhe a coerência (...) Os fatores perspectivos ou prospectivos são
aqueles que avançam expectativas sobre o conteúdo – e também a forma – do
texto: título, autor, início do texto (p. 67-68).
Como você mesmo pode
inferir (viu como já estamos utilizando um fator da coerência?), a coerência do
texto anterior se dá à medida que há elementos coesivos que a estabelecem. Ao
trocar o termo "menino maluquinho" pelo pronome pessoal e ao
substituir "uma bomba" por "esse negócio", o autor tornou o
texto coerente e, se assim podemos dizer, mais leve e solto, por meio da
utilização de mecanismos coesivos. E quais serão esses mecanismos?
Halliday e Hasan
(1976), dois grandes nomes da Lingüística Textual, citados por Koch e Travaglia
(2004), identificam cinco desses mecanismos, a saber: (a) referência; (b)
substituição; (c) elipse; (d) conjunção (e) coesão lexical. Como você pode
perceber, esses cinco elementos fazem parte daquele sistema léxico-gramatical a
que nos referimos anteriormente, lembra? A referência pode ser pessoal, demonstrativa
e comparativa, e se constitui no uso de alguns de seus "velhos
conhecidos" da Gramática – pronomes pessoais, possessivos e
demonstrativos, bem como de advérbios, entre outros. Veja, por exemplo, que em
(13) Paulo é um grande advogado. Ele conseguiu a absolvição de João e de
Manuel: este, condenado a dez anos e aquele, na cadeia há mais de vinte! –
temos referências pessoal e demonstrativa. Já a substituição, como o
próprio nome o diz, é a colocação, no texto, de um termo ou oração no lugar de
outro. Este fator é interessante, pois assim não repetimos palavras e/ou
expressões desnecessariamente. Você já reparou que, quando fazemos essa
repetição, o texto fica mais pesado?
Os
Parâmetros Curriculares também consideram as atividades de análise e reflexão
da língua como fundamentais para que o aluno possa reelaborar os seus saberes,
formulando e verificando hipóteses sobre o funcionamento da mesma. Estão aí incluídos
alguns aspectos importantes, tais como: Revisão textual – momento
privilegiado, para que o aluno perceba "problemas" em seu texto e
busque resolvê-los, acrescentando ou retirando informações, fazendo
substituições, deslocando parte do texto, tudo isso para que se torne mais
legível.
Atenção! Revisar um texto é diferente de
simplesmente passá-lo a limpo, prática escolar bastante conhecida nossa! Ler,
observar textos de qualidade dos mais variados autores, de preferência os
reconhecidos, permite ao aluno verificar como utilizam os recursos linguísticos
disponíveis – como resolvem problemas de repetição por meio de substituições,
por exemplo – e ainda observar as formas de pontuação, apreciar o vocabulário
utilizado etc. Outro aspecto é a pontuação,
importante atividade de textualização.
Dessa forma,
acreditamos que ficou claro para você que não é preciso decorar fatos
gramaticais, mas sim entender como esses fatos interferem na
inteligibilidade de um texto. Para que isto aconteça em sala de aula, nos anos
iniciais, a intervenção pedagógica do professor é muito importante. Como
nos diz Moraes (2002), para que os alunos
aprendam a produzir textos, além de viabilizar o acesso à diversidade textual,
o professor precisa garantir que outras condições estejam asseguradas.
Portanto,
ele deve propor atividades que levem os alunos a refletirem sobre a organização
discursiva dos diferentes textos de modo a favorecer a explicitação do que já
sabem, tornando objeto de reflexão sistemática outros aspectos dessa estrutura
ainda não observados. Além disso, é imprescindível que haja um contexto
favorável para a reflexão coletiva sobre as observações e hipóteses levantadas
pelas próprias crianças e sobre as indagações feitas pelo professor.
Nessa
perspectiva, a produção de um texto pode tornar-se uma boa situação de
aprendizagem quando, no decorrer da atividade, as crianças tenham que tomar
decisões sobre o que vão escrever, tendo em vista o tipo de texto e o contexto
comunicativo. Durante a escrita de um
texto, é necessário que se reflita paralelamente sobre dois aspectos: o que
será dito, ou seja, o assunto que será tratado e como será dito, ou seja, qual
a forma discursiva mais adequada à situação e ao que se pretende comunicar.
Obrigada, Geisa S. (com certeza esse resumo facilitou a
vida de muitos de nós).
Seg
amei me ajudou muito !!!!
ResponderExcluirFico mto feliz por isso!!
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